sábado, 10 de novembro de 2012

O senhor March

Título: O senhor March
Autor: Geraldine Brooks
Páginas: 304

O senhor March é um capelão do exército americano na Guerra de Secessão (abolicionista por idealismo) convivendo com as agruras da guerra e assolado constantemente pela saudade da mulher e das quatro filhas. No seu ofício reencontra uma escrava que conhecera quando ele era jovem, trazendo-lhe agradáveis lembranças e reafirmando o seu desejo de liberdade para os negros.

A história em si é ótima, mas achei sensacional a ideia por trás do livro: a autora se baseou num clássico da literatura americana (Mulherzinhas, que eu, sinceramente, não conheço, mas pretendo ainda ler um dia) que conta a história de uma mãe e quatro filhas, enquanto o marido está na guerra. Como nada é falado sobre o marido, a autora usou a ideia para romancear a vida do personagem ausente. Fantástico.

Trechos interessantes:

"Escrevo na mesa dobrável que você e as meninas tiveram o carinho de me dar, e, embora tenha derramado e perdido meu estoque de tinta, não se incomode em me enviar mais. Um dos homens me mostrou uma receita engenhosa para um bom substituto deste produto, feito das últimas amoras-pretas da temporada. Graças a ele, posso lhe enviar, neste momento, palavras 'amorosas'!" (pág. 11)

"-Quem me contrataria para corromper as mentes de suas filhas? E, ainda que me contratassem, não domino aquilo que gostaria de ensinar. Não escalei a montanha do conhecimento, mal a toquei. Se galguei certa altura em meu aprendizado, foi apenas como um gavião que encontra uma brisa favorável, que o leva para cima por um momento." (pág. 77)

"Não dormi naquela noite. Embora fosse muito cedo para uma visita matutina, fui à casa dela, sendo recebido por uma carrancuda senhora Mullet - talvez ela soubesse do vestido em estado comprometedor -, e, no devido momento, conduzido até o escritório de seu pai, onde cumpri a formalidade de pedir-lhe aquilo que já tinha tomado." (pág. 102)

"Se um homem deve perder sua fortuna, é bom que já tenha sido pobre antes de adquiri-la, pois a pobreza exige aptidão." (pág.127)

"Se há um tipo de pessoa em quem nunca confiei é alguém que não tem dúvida." (pág. 135)

"Como dizia Heine: 'Não temos a ideia. A ideia é que nos tem... e nos leva à arena para defendê-la como gladiadores, que combatem, queiram ou não." (pág. 139)

"Observei esse detalhe e o registrei como mais uma das injustiças da vida: o homem que já foi rico e perdeu tudo é tratado com mais civilidade do que aquele sujeito que sempre foi pobre." (pág. 142)

"Será que existem duas palavras mais intimamente relacionadas que coragem e covardia? Penso que não existe um homem que não queira possuir a primeira, mas tema ser acusado da segunda. Enquanto uma é considerada o apogeu do caráter de um indivíduo, a outra pode ser vista como o seu nadir." (pág. 185)

"Um lar, ainda que na escravidão, é sempre um lar, e não é fácil abandoná-lo sabendo que tal ato será irrevogável." (pág. 192)

"Um sacrifício como o dele é considerado nobre pelo mundo. Mas o mundo não me ajudará a consertar o que a guerra destruiu." (pág. 230)

"Como era fácil dar conselhos sábios, mas como era difícil segui-los." (pág. 269)

"Apenas lhe peço que entenda que, ao cairmos, a única coisa a fazer é levantar novamente, prosseguindo com a vida que nos aguarda, tentando fazer o bem na medida do possível às pessoas que aparecerem em nosso caminho." (pág. 292)

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